terça-feira, 27 de outubro de 2009

très californication.*




*"Sempre que alguém passar por aqui apaixonar-me-ei,
seja por 5 minutos ou por uma vida inteira."
Hank Moody' style.



A Maria tem amigos. Não muitos. Tem bons amigos.
A Maria tem conhecidos. Tem muitos. Não se sabe se são bons ou maus. A Maria não os cataloga dessa forma.
A Maria tem pessoas na sua vida que apareceram um dia, partilharam estrelas, nuvens e asas de aviões. Continua a ter. Desembarcam longe ou perto e nem sempre desfazem as malas. Voam de novo. E a Maria fica a ver até os olhos perceberem que não podem olhar apenas para cima.
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"Quando nos conhecemos? Lembras-te como foi?"
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A Maria sabe. A Maria lembra-se. Já nem estranha quando lhe dizem "És a minha memória!". Foram tantas as vezes.
Um "Já não me lembro..." não risca a pele da Maria quando sente que o como e o quando são inúteis no que parece ser intemporal e desinteressado, contudo sincero.
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A Maria não julga, não critica, não interrompe. Ouve e perde-se nas histórias que lhe contam. E, por vezes, vê a sua história contada por outros, noutros tempos, com outras pessoas... Mas indubitavelmente sua!
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Confissões, desabafos, opiniões, comentários... A Maria absorve e fascina-se com a entrega de quem a embala. Desconhecida mas tão familiar... Quando quer, a Maria não vê falhas nem defeitos nem aterragens atribuladas mas antes pedaços de gente que um dia ficarão no passado por vontade própria.
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Sem esforço, a Maria recorda-se daquele sorriso que a faz sorrir, do simples e contínuo movimento de levar o dedo aos lábios, das expressões, do ar marcado e carente, da impossibilidade de estender os braços e deixar saber que sente tudo da mesma forma.
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A Maria é a Maria. Nunca seria apenas Maria.
A Maria sou eu, és tu, é ele, é ela, são todos os que a quiserem ser.
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"Um perfeito equilíbrio que atrai."
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Enquanto o dia nasce, enquanto a primeira luz transforma os olhos da Maria em pequenas manchas, a Maria despede-se o mais serenamente que consegue. Sem olhar para trás uma única vez, sob pena de nunca mais conseguir ir embora. Não lhe interessa o que vai fazer a seguir, apenas que não vai esquecer. E constrói-se uma história sem perto nem longe, sem escalas sem atrasos.
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E voa cá em baixo. E as asas do avião afastam-se...

"Como serão vistas de outra forma?"

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