sábado, 13 de junho de 2009

o dia de ontem (take 3).

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Só para que conste, este post já foi escrito 2x mas o meu amigo kanguru está-se a habilitar a levar duas chapadas e a ser repatriado para as austrálias. Ora dá, ora não dá. Ora pisca, ora se apaga.
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A tarde de ontem foi emprestada. Troca de agendas, mudança de planos e rumo à terrinha.
Teria sido apenas mais uma tarde de trabalho se não fosse o calor inesperado que se fez sentir, a noite mal dormida e a imensidão de pensamentos a correr a maratona na minha pista de massa cinzenta. Um carro sem ar condicionado e uma viagem de 45minutos com os vidros fechados (para conseguir ouvir música e para o carro se manter estável) só vieram ajudar à festa!
"Não há muitas marcações por isso é para sair cedo." Não era isto que me chateava. Quantos mais melhor. O que eu não esperava era atender a Ignorância e a Estupidez personificadas num senhor já com os seus 80 e com sotaque brasileiro. Mas o que fiz eu para merecer isto? Tenho a certeza que não atropelei nenhum animal durante a viagem. Pelo contrário, vi um já sem vida e quase bati para me desviar. Só não parei para o tirar dali porque os senhores da Brisa não iam achar muita piada! E a traseira do meu carro também não. E as minhas perninhas também não!
"Eu sô poeta! Eu istudei muito! Eu sô muito inteligentxi! Eu pago 5000euros para tomarem conta di mim!" (Ora, inteligente??? Naaaaaa.) "As pessoas só mi querem por causa do meu dinheiro!" (Mais uma vez: Inteligente??) "Eu sou um poeta e falo a rimá e bla bla bla e vira o disco e toca o mesmo." (Agora todos juntos: Inteligente????) E isto tudo ainda na sala de espera. O pior, o que realmente me incomodou vem já de seguida.
"Boa tarde. Pode-se sentar!"
"O seu patrão não istá? É a minina qui mi vai atendê? Não sei si quero."
"Boa tarde para si também. Deveria ser a primeira coisa. Segundo, eu não tenho patrão. Eu presto serviços, o que é muito diferente. Mas uma pessoa inteligente como o senhor deve saber a diferença. E terceiro, pode tratar-me por menina mas antecedido por doutora. Doutora menina agrada-me mais. Ou menina doutora. Como preferir." (sou tão mas tão simpática!)
"Mas a minina ainda não é formada. É enfermeira? Nem siqué devi sabê o qui mi vai fazê."
"Não, não sou formada. Estou aqui a praticar para quando acabar o curso de enfermagem que não tem nada a ver com dentes mas hoje apeteceu-me. E se o senhor abrir a boca talvez lhe saiba dizer o que temos de fazer."
"Mas o seu patrão não está? Não sei si quero qui a minina mi tratxi."
(para além do sotaque irritante de brasileiro que já está cá há mais de um século, faz orelhas moucas e é burro)
"Só estou cá eu. Não está nenhum colega. Mas se não quiser esteja à vontade. Muito gosto em vê-lo. Boa tarde!" (tiro as luvas, a máscara, levanto-me e vou para o outro gabinete)
"Mas eu tenho doris e bla bla bla bla... Minina! Minina! Eu vô confiá!"
"É-me indiferente se confia ou não. Só preciso que abra a boca e ponto final! E vamos restringir a conversa ao necessário. Aqui eu sou a médica, eu decido o que é melhor para o paciente e se o senhor concordar avança-se com o tratamento. Não preciso de justificações nem de saber quanto dinheiro, formação e cultura o senhor tem. O senhor está com dores, eu não. O senhor precisa de mim mas eu não preciso do senhor. A hierarquia está bem patente nesta situação. Tenho mais pessoas lá fora à espera de serem atendidas e já perdi mais tempo do que devia com esta conversa. Tenho pena que não me respeite e que ache que os jovens representam a ignorância mas este infeliz episódio reflecte exactamente o oposto. A partir do momento em que ultrapassam a fronteira do simples comentário ou crítica e passam ao insulto não é só a mim que ofendem mas aos meus pais que investiram o que tinham e o que não tinham na minha formação. E isso eu não admito! Pode abrir a boca agora!"
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E pronto, foi mais ou menos assim. Não me desviei muito dos factos reais. Pela primeira vez tiraram-me do sério e tive de responder à letra. Não admito insultos descabidos no meu local de trabalho. Querem querem, não querem, temos pena!
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"Goxtei bastantxi. Agora é a minina qui vai terminá o trabalho?"
"Não. O senhor tem consulta marcada para outro colega. Bom fim de semana."
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E não é que sai do consultório e marca consulta para mim? Aaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiii! O que fiz eu para merecer isto???
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1 comentário:

Filhippie disse...

os dentistas podem partir os dentes aos pacientes?