terça-feira, 1 de setembro de 2009

caderno de actividades do eu.



Sou estranha. Sempre ouvi dizer que sou estranha e não faz sentido pensar quando foi a primeira vez. Entranhou-se a estranheza na pele pálida e teimou em não sair. Bem ou mal aceitei os traços delineados por quem me via de fora.

"És estranha, sabias?"

"Ouvi dizer que sim."

Sou antagónica. Não sou uma linha recta nem uma curva. Sou antes uma figura envolvente. A linha que se traça no labirinto da parte de trás da caixa dos cereais e que não sai bem à primeira.

"És estranha!"

Há quem diga que falo muito (e mandam-me calar) e há quem diga que falo pouco (e mandam-me falar). Prefiro olhar e ver falar e passo por intrometida quando apenas sou curiosa.

Confesso, não sou de meios termos. Uns dias 8, outros 80. E isso talvez tenha que ver com a minha dificuldade inata com medidas. Não tenho noção das medidas, de quando já chega, de quanto falta, de quanto mede. Por exemplo, não cozinho, mas não cozinhar não implica não gostar, apenas não tentar cozinhar. Gosto de inventar, fazer as coisas à minha maneira, deitar as quantidades que quero e mexer o tempo que eu quiser. O problema aqui é o meu próprio problema: não tenho noção das medidas certas e para fazer mal prefiro não fazer. Sou perfeccionista.

"És estranha!"

Também não tenho noção do que falo. Não sempre. Mas eu penso. Penso muito. Bastante. Demais. Penso exaustivamente. Falo quando estou a pensar, penso quando falo, digo o que estou a pensar e fico com a noção que apenas pensei. Outras vezes, penso que disse, e na verdade apenas pensei e ficou para mim. De forma estranha ficam coisas por dizer, por não dizer, por insinuar.

Dizem que falo baixo e pedem-me para repetir. Repito e não percebem. Não repito. E fico aborrecida. Sou estranha.
Quando falo, olho. Mas olho para cima, para baixo, para o lado, para o ontem, para o amanhã, para a morte da bezerra. Não é de propósito... é só despropositado. Irritantemente despropositado. Parece que me estou nas tintas para a conversa mas não! É completamente o contrário.

"Se tu olhasses mais para a pessoa com quem estás a falar serias ainda mais cativante!"

Nas minhas guerras não faço prisioneiros...

"És estranha!"

Sou... Estranhamente complexa.

6 comentários:

d disse...

e estranhamente identifiquei-me tanto com o que escreveste. tb me dizem algumas vezes como sou estranha. :S

a estagiária disse...

Não precisava de ler para perceber que és estranha..
Acho que toda a gente tem estranheza dentro de si.. Estranheza e complexidade.. é assim mesmo o ser humano..

MariaMil disse...

Eu também sou assim... mas não somos esquisitas somos únicas...
:)

adorei o texto...

beijoquinhas*

Anónimo disse...

Tenho mimos para ti!

Anónimo disse...

Terei sido uma das pessoas que te chamei estranha?... É verdade...lol...estranha, estranhamente complexa :P

Anónimo disse...

Claro que es estranha... Preferias ser vulgar? A vida era um tédio...