terça-feira, 26 de maio de 2009

antónio e os filhos do joão.*

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Ele - Desculpem. Vão comprar bilhete?
Nós - Não. Só estamos a ver.
Ele - Ah! É que eu tenho aqui um bilhete para oferecer.
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Numa destas noites de 2ª, 4ª ou 6ª feira, depois do surpreendente curso que ando a frequentar, eu e a Caty decidimos passar pelo Coliseu para descobrir o porquê de tanto alvoroço.
No início, confesso que pensei tratar-se dos pastéis de chaves da padaria que há por ali ou mesmo da promoção de croissants a 50 cêntimos (pechincha, vejam lá!). Mas quem vai para comer deixa metade dos acessórios e dos enfeites de Natal em casa e a concentração de freaks, fozeiros e tias deixou-me desconfiada.
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Procurámos, procurámos...
Ballet? Na**. Só em Junho.
Festival de música brasileira? Também não. Só em Junho.
Fado? Podia bem ser mas só em Junho.
Hmmm... Não restavam muitas opções.
Mais um cartaz afixado. Cinemateca francesa? Têm todo o ar disso. Nariz empinado, ar emproado, "tenho a mania que sou mais inteligente porque vejo filmes franceses" estampado na testa, "ah e tal sou diferente, inacessível mas até atiro umas migalhas a uns e outros só porque posso" estampado nas roupas... Mas naaaaaaaaaa! Só em Junho!
Lembrem-me de não passar por ali no mês de Junho!! Ainda dou de caras com quem não quero! Bem, de caras não que ainda não partilho dessa felicidade...
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(tenho a perna dormenteeeeeeeeeeeeeeeeeeeee... é castigo!)
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Caty - Vamos embora.
Eu - Deixa-me só ver daquele lado.
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Ahhhhhhhhhh, o tal cartaz estanho que já tinha visto por aí e que não me despertou o mínimo interesse e curiosidade. Tanta gente para ver Antony and the Johnsons*, que traduzido dá qualquer coisa como António e os filhos do João ou Toninho e os rebentos do Joni. Muito mas muito apelativo!
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A verdade é que não ficámos com o bilhete mas resolvemos ver o que estávamos a não ganhar (perder não porque o bilhete seria oferecido).
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Grau de elucidação quando entrámos: zero. Grau de elucidação à saída: zero.
Eu sei lá quem é o dito cujo e o que faz ou diz ou canta!
Pelo tipo de público-alvo, representado pela amostra ali presente, coisa boa não seria.
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Hoje, passados uns dias, lembrei-me de googlar o senhor. Et voilà:
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Sim, agora entendo aquela multidão! Uma carinha laroca destas só podia dar nisso! Qual Boy George, qual quê? Toninho é que é! Mas para não dizerem que sou fútil e superficial ouvi umas musiquinhas do shemale e confesso que me senti ofendida com uma em particular (não tanto pela letra mas pelo vídeo). "Epilepsy is dancing"... Uma miúda vê um veado (o animal!!) num beco (coisa normalíssima em plena cidade) e isso despoleta uma crise de epilepsia. Enquanto se contorce no chão, "sonha" ou tem visões em que todos andam nus, pintados com tinta, com máscaras vienenses. Onde os homens são todos efeminados e gostam de se esfregar uns nos outros sob a forma de uma pretensa dança e onde tudo é uma enorme orgia. No final ela acorda, levanta-se sorridente e vai à sua vida. Triste! Muito triste! Já convivi de muito perto com a doença e isto ofende-me e ofende todos os que são minimamente cultos e sabem do que se trata a epilepsia. Pode ser muita coisa mas não o retrato pintado por este senhor(a)(coiso)(a). Não tarda veremos epilépticos a exporem-se às luzes das discotecas e a certos jogos de pc só para poderem ver o mesmo que a miúda viu na suposta crise do vídeo.

Shame on you, Toninho! Em vez de passares tanto tempo ao espelho a pôr base e a esticar o cabelo, pega num livro chamado dicionário e procura por ignorância. Vais ver que encontras lá o teu nome!

E, por favor, não me venham dizer que isto é arte! Ou venham porque até me apetece bater em alguém e não há ninguém disponível!

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Sempre podíamos ter ficado com o bilhete para vender.

** Forma proclítica do não.

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