sábado, 2 de maio de 2009

lá vai ela...


Qual dondoca retro-chic que se lembrou de tirar o pó ao pseudo-cão-que-mais-parece-qualquer-coisa-que-não-sei-bem-agora-porque-não-me-lembro-mas-tipo-meio-rato-meio-furão-a-roçar-o-caniche-de-pelúcia-bem-foleiro-mas-como-é-estranho-e-indecifrável-está-na-moda-e-assim-os-gajos-olham-para-trás-e-as-gajas-roem-se-de-inveja-que-isso-é-que-é-importante, a segurar uma trela de material suspeito e gasto, sempre com o dedo mindinho a apontar incessantemente ora para cima ora para o lado, qual estrábico atento e concentrado. E lá vai ela "sabendo que é boa"zinha, porque até é voluntária numa instituição (disseram que ficava bonito no curriculum) e todas as estações pega naqueles pólos do crocodilo e do frederico perry que selecciona minuciosamente dentre as riscas azuis e brancas, vermelhas e xadrês e lá vai ela doar a quem precisa... de pouco, do essencial, do básico (mas não dos básicos de uma marca de três dígitos).
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Lá vai ela, altiva e emproada (mas não é por mal... é da casta, dizem os entendidos!), pela calçada da cidade. Óculos escuros, pretos ou coloridos (que isso não é importante), de tamanho e dimensões proporcionais ao ego (nada contra óculos assim... também gosto!). Faz por ser vista mas alega que o anonimato é o segredo e o que mais preza. Nota os olhares (in)discretos de quem passa e comenta e finge ignorar. "Inacessível", pensa ela, "Fozeira", pensam os outros.
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Vestida com algo que um dia já foi roupa, lá vai ela. Alegre, em sintonia com o espírito ("porque o interior predomina"), pinta o corpo de todas as cores e feitios, sem combinar sapatos com mala ou mala com cinto (apenas na marca). Cores de todos os tons... "Cinzentona é que não!" E cumpre à risca, banindo cinzentos do quotidiano e do cérebro. Sempre aventureira, como quem sai de casa para uma qualquer viagem e decide que afinal 20kg de bagagem apenas servem para os primeiros 2 dias, desfila camadas e camadas de savoir faire da alta (ou não) costura, quer faça sol ou chuva.
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Cabelos maquinalmente penteados pelo acaso, uma hora antes de sair de casa. "Naturalmente despenteado"... E aquela mecha que teima em cair para a frente do rosto cor-de-chocolate-com-pouco-leite-semi-torrado-à-luz-de-uma-cama-de-solário-365-dias-por-ano-mas-que-afinal-e-pela-boca-dela-é-tudo-natural-e-já-deve-ser-de-família-apesar-da-mãe-ser-branca-como-cal-e-a-irmã-ser-quase-gémea-do-Casper e que cobre o olho direito com uma graça tal que só apetece ir ali à loja do lado comprar uns ganchinhos para o cabelo e oferecer-lhos. Mas ver o mundo de uma perspectiva diferente deve ser isso mesmo, ver só com um olho, qual pirata do perna de pau (o gelado) porque o das caraíbas já estava tomado.
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Lá vai ela, ausente do mundo, concentrada num mundo criado pela xptozice dos ipod's povoado por bichos de mais de quatro patas com pêlos e antenas com nomes estranhos como "a última moda na Mongólia mas que ainda não saiu aqui mas que se ouve bem e faz-me ver o meu interior e ser melhor pessoa" (vulgo "música da treta"). Mas lá vai ela de telemóvel na mão, rosinha ou prateado, com uma lista cheia de diogos, martins, afonsos, gonçalos, pipinhas, leonores, e tudo o que se possa imaginar com um inha de atrelado.
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Lá vai ela, qual dondoca futurista, intocável e altiva, de nariz empinado...
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Lá vai ela... Deixa-a ir...
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(E tudo isto depois de umas horas no centro da santa terrinha...)

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